quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

"A Renovação Carismática não quer confronto com nenhuma igreja ou denominação"




Eleita a primeira mulher presidente da Renovação Carismática Católica do Brasil, a capixaba Katia Roldi Zavaris aposta nos grupos de formação de fiéis para fortalecer a identidade da Igreja.



Há 25 anos ela teve a primeira experiência com Jesus Cristo, quando começou a frequentar um grupo de oração na Catedral de Vitória, junto com aproximadamente 800 pessoas.  Era setembro de 1987, data que jamais esqueceu. Daí em diante, não parou de servir à Igreja Católica. Coordenou por sete anos a Renovação Carismática Católica do Espírito Santo (RCC), participou de várias missões dentro e fora do país e, em junho deste ano, foi eleita presidente da Renovação da Arquidiocese de Vitória. A responsabilidade, que já era grande, ficou ainda maior em setembro deste ano, quando tornou-se a primeira mulher presidente da RCC Brasil. Mal assumiu a função e já começou o planejamento para os próximos anos do movimento em Vitória, que será modelo para todo o país e terá na Capital uma pequena sede da Renovação Nacional. Nesta entrevista, Kátia fala sobre o aumento do número de evangélicos e as ações para manter os fiéis católicos; como concilia a vida familiar, o trabalho – ela é proprietária de uma escola de inglês na Praia do Canto – e o servir; além de adiantar como será a participação do Estado na Semana Missionária, evento que vai anteceder a Jornada Mundial da Juventude 2013, no Rio de Janeiro. 

Como conheceu a Renovação Carismática Católica?
Sou de família católica praticante e nunca estive fora da Igreja. Na minha família há cinco freiras – duas já falecidas. Fui caminhando em outros grupos dentro da Igreja, que tem serviços para todos os gostos. E a convite de uma amiga, em setembro de 1987, conheci o grupo de oração da Catedral de Vitória. Quando fui pela primeira vez, senti que ali era o meu lugar, fiz a minha primeira experiência com Jesus Cristo. Toda a minha vida como Igreja Católica foi a Renovação que me ensinou, que me fez aprofundar.  

O grupo de oração é uma parte jovem da igreja?
Se você olhar toda a história da igreja, com certeza é um dos movimentos mais novos. Vamos completar em 2017 o nosso jubileu (50 anos).  

O que não quer dizer que só jovem participa...
A experiência no Espírito Santo é para todo cristão. No grupo de oração há pessoas de todas as idades. Nos nossos grupos há o ministério para as crianças, onde pessoas ficam com os pequenos e os evangelizam. Começa desde pequenininho e vai até a terceira idade. Tem pessoas de 95 anos ainda servindo à Igreja, através do grupo de oração. 

A Renovação Carismática foi criada, de certa forma, para recuperar os fiéis que estavam indo para igrejas protestantes?
De maneira nenhuma. Ela não foi criada, a renovação surgiu. Não houve premeditação no surgimento do movimento. Foi pela vontade de Deus. O Papa João XXIII, na abertura do Concílio Vaticano II, fez essa oração: “Renova Senhor, em nossos dias, a graça do seu Espírito Santo como em um novo Pentecostes”. A gente entende como uma resposta do papa. A Renovação é um movimento que surgiu depois do concílio. O concílio terminou por volta de 1965, e, entre 1966 e 1967, a Renovação oficialmente surge em um retiro que aconteceu com jovens nos Estados Unidos. Creio que foi um pedido atendido, mas sem premeditação. 

Algumas pessoas veem semelhança entre os grupos de oração e as igrejas pentecostais.
A nossa identidade é o batismo no Espírito Santo. É o Pentecostes. É o invocar a cada semana no grupo de oração a renovação do Espírito Santo, que é a terceira pessoa da Santíssima Trindade. Os grupos de oração têm como identidade o Pentecostes, mas não são pentecostalistas. A partir do momento que descobrimos que Deus é uma pessoa, e o seu Espírito Santo comunica em nós a graça do Deus vivo, nós passamos a nos comunicar com Ele. Nós o louvamos, conversamos. A nossa forma de oração é bem pessoal. Eu com Deus. E, às vezes, isso faz com que as pessoas achem que nos assemelhamos a algumas igrejas evangélicas, mas somos Católicos Apostólicos Romanos. Não somos uma outra igreja. Integramos um movimento com  características peculiares.

A Renovação Carismática sofre preconceito dentro da própria Igreja? Ainda há pessoas que não veem o movimento com bons olhos?
Isso foi bem comum no princípio, porque era algo muito diferente. A forma de nos relacionarmos com Deus, os gestos que usamos, que são bíblicos. Hoje, o preconceito é mínimo. A Renovação na nossa arquidiocese está inserida em todas as paróquias. Membros da Renovação estão inseridos nas várias pastorais e serviços da igreja. O preconceito  é muito raro, graças a Deus. 

O Brasil tem como presidente uma mulher, e agora a senhora foi eleita como a primeira mulher presidente da Renovação Carismática do Brasil. Como vê essa escolha?
As mulheres estão ocupando o seu espaço, mas eu vejo por um prisma um pouco diferente. A evangelização é urgente, tanto que o Papa Bento XVI convocou um sínodo em Roma para se pensar as novas formas de evangelizar. Acho que a escolha de uma mulher é um sinal de Deus dizendo que precisamos nos unir, homens e mulheres, filhos e filhas de Deus, para uma grande evangelização. Nós não podemos, neste momento, nos segmentar. É necessário que toda humanidade se una para que o nome de Jesus seja proclamado como único Senhor, único Rei, de todas as coisas. 

A senhora quis ser fotografada com a imagem de Maria. O que representa Nossa Senhora para a Igreja?
Maria é a mãe da Igreja, porque ela foi escolhida por Deus para gerar o filho dele. Ela é muito importante para nós. Nós respeitamos Maria como alguém que tem um papel na história da Igreja extremamente importante. Se Jesus é a nossa salvação, Maria foi escolhida para trazer a salvação ao mundo. Portanto, ela não é qualquer pessoa. Ela é a mãe do nosso Senhor e ela merece, sim, um lugar especial no nosso coração e nas nossas igrejas. 

O número de evangélicos no Brasil cresceu nos últimos anos. Como pretende fazer um enfrentamento a esse crescimento? E buscar os que ainda não tem religião?
O que a gente pretende fazer é fortalecer o nosso movimento através de formações, para que as pessoas possam conhecer toda a riqueza da Igreja Católica. Em nenhum momento nós queremos confrontar com nenhuma igreja. Quando conhecemos profundamente a nossa, nós a amamos, não temos vontade de sair. Ela nos completa. Como Renovação temos que fortalecer a nossa identidade. Assim estaremos ajudando católicos e não católicos a permanecerem na nossa igreja. Quem faz a experiência de Jesus Cristo profunda tem o desejo de levar essa mesma experiência a outras pessoas. O verdadeiro evangelizado ajuda a evangelizar outros. 

A sede da Renovação em Vitória vai passar por reformas?
A Casa de Maria é a sede da Renovação na Arquidiocese. Lá, temos o escritório estadual da Renovação e, como fui eleita presidente da Renovação do Brasil, teremos também um pequeno espaço, apenas para a presidência. A casa, que é o antigo Colégio do Carmo, no Centro de Vitória, abriga o coração da Renovação do Brasil, do Estado e da Arquidiocese. A reforma vai começar pelo telhado do auditório, no início de janeiro de 2013. Nós somos muito agradecidos ao arcebispo de Vitória, Dom Luz Mancilha Vilela, por nos ter cedido esse espaço. 

Como os fiéis da Igreja Católica podem ajudar a melhorar a sociedade?
Sendo católicos cristãos verdadeiros. Vivendo o que nos diz a doutrina social da igreja. Pessoas que vivem o evangelho autenticamente, contribuindo com a mudança da sociedade, sendo pessoas íntegras, retas, verdadeiramente convertidas. Pessoas de caráter, que não são individualistas, que sempre pensam no próximo. 

Como a senhora concilia o servir à Igreja, a família e o trabalho?
Sou formada em Letras/Inglês pela Ufes, dou aulas de inglês desde os 16 anos de idade. Depois, tive a oportunidade de ter a minha própria escola, que ocupa bastante o meu tempo. Sou casada há 18 anos – não tenho filhos. Eu costumo dizer que Deus quando nos chama age na nossa vida de forma milagrosa, impactante. Toda a minha vida é direcionada por Ele. Costumo dizer que o tempo da minha vida é um milagre. É claro que não é sem sacrifício, porque o corpo sente, mas Deus restaura e tudo vai se encaixando.

Jovens virão para o Estado para a Jornada Mundial da Juventude, no Rio?
A igreja de Vitória e algumas dioceses, além de outras cidades próximas ao Rio de Janeiro, foram escolhidas para ter a Semana Missionária. O que se prevê é o número de 10 mil jovens do mundo inteiro. Eles serão acolhidos por famílias, e as paróquias vão oferecer momentos de convivência e evangelização. 

O que a senhora gostaria de dizer às pessoas?
Nós precisamos doar as nossas vidas. Muitas pessoas têm medo, acham que vão perder a vida, e ocorre o contrário. Quanto mais  a gente se doa para Deus, mais a nossa vida é ampliada, tem sentido e alegria. Eu posso dizer, sem medo algum, que, quando temos Jesus como Senhor da nossa vida estamos na estrada certa. Não há  mais perda de tempo. 



Laila Magesk
lmagesk@redegazeta.com.br
Foto: Ricardo Medeiros